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Zlatibor e o mar de neve


Quão irônico é finalmente começar a escrever sobre a sensação de ver a neve pela primeira vez, no dia em que o frio mais te fez lembrar que você é uma pessoa tropical? Sim, acordei determinada a ir a uma biblioteca para finalmente focar toda a atenção no texto que queria escrever. No entanto, saí apressada com medo de atrasar meu amigo que me deu carona e pronto, foi o suficiente pra esquecer várias coisas. Meu pensamento estava mais ou menos assim: “Hoje não está nevando, não vou andar na rua muito tempo. Assim que achar a biblioteca o lugar estará aquecido and that’s it.”

Até aí tudo bem, eu só não contava com o fato que me perderia na cidade, não acharia a biblioteca e andaria por cerca de 30 minutos sem cachecol numa temperatura de 1 grau de calça jeans, um par de meia apenas (geralmente coloco 3) e um casaco por cima de uma “blusinha”. O brasileiro que nunca fez isso na europa, que atire o primeira bola de neve. Bom, isso não é nada comparado ao que vivi cerca de duas semanas atrás na cidade de Užice, então vamos falar sobre isso!


Foto 1: iIustração feita pela Rayssa da nossa primeira foto na neve.

Dentro do carro a caminho da cidade que citei anteriormente, já era possível prever o frio que nos esperava. Isso porque a cidade é localizada a cerca de 400 metros acima do nível do mar e depois de 3 horas de viagem chegamos a um dos lugares mais poéticos que já vi. Neve por toda parte, cobrindo os telhados das casas, árvores, os bancos das praças...­­­­


Foto: Marina Farias


A neve ganha forma ao ir de encontro com as curvas que encontra. Foto: Marina Farias

Mas antes de finalmente explorar o local, fomos recebidos pelos pais do Darko – um dos integrantes da Serbia4Youth que organiza nossas viagens - para um jantar em família extremamente acolhedor. Então, antes de falar da cidade, uma pequena pausa para mostrar o registro de um dos momentos mais simpáticos que tivemos em Užice. E claro, não podia faltar uma tradição sérvia pra esse momento.


Na imagem, o pote de mel e os três copos que foram servidos a mim, à Rayssa e ao Thiago. Foto: Thiago Ferreira

Na foto acima, vemos um pote de mel e copos com água com colheres em cima. A tradição é a seguinte: para cada convidado que chega na casa, o anfitrião serve um copo desses para que a pessoa sirva-se com mel e depois deposite a colher na água. É ou não é a tradição mais “doce” de todas?


Ao lado da Rayssa, vemos nossos anfitriões: a Rada (mãe) e o Rade (pai) do Darko. Foto: Darko Gavrilović

Depois disso, foi o momento de seguir para o hostel onde descansamos antes de visitar o pico mais alto local (assunto que falarei mais adiante). E aqui vem uma das coisas mais interessantes: o hostel, chamado Eco Hostel Republik, é todo decorado com artigos da antiga Iugoslávia. Tudo o que você puder imaginar desse período e também itens da segunda guerra mundial era possível encontrar lá. Não só itens como também fatos históricos fizeram parte dessa experiencia. Descobri conversando com o dono do local - que é também guia turístico - que a cidade de Užice foi o primeiro território europeu a se libertar do controle dos nazistas durante a segunda guerra mundial pelos Partisans in 1941. Outro fato interessante foi descobrir que a cidade se chamou durante um tempo “Titovo Užice”, que significa "Užice do Tito”. Pra quem não sabe, Tito foi um dos mais importantes líderes políticos de todos os tempos. Além de militar foi um revolucionário comunista, e presidente da República Socialista Federativa da Iugoslávia, sendo considerado por muitos uma das figuras mais importantes da história.


Posamos para a a selfie usando os capacetes com o símbolo dos Partisans usados durante a segunda guerra mundial.


Imagem do salão central do hostel. Foto: google imagens

Após dormir e deixar o hostel no dia seguinte, era o momento de finalmente conhecer Zlatibor, onde fica o pico montanhoso mais alto do oeste da Sérvia. Localizado a cerca de 1.400 metros acima do nível do mar - além de frio - o pico Tornik é um dos lugares mais lindos que já visitamos. Pra mim, uma brasileira que nunca tinha visto neve na vida, dar de cara uma paisagem coberta de branco por todos os lados, em uma temperatura que marcava -7 graus foi como estar em uma cena de filme. Quem já assistiu o filme húngaro “Satantango” do diretor Bela Tarr, vai saber que a cena clássica da menina andando na estrada fria se parece muito com meu rosto congelado na imagem abaixo. Foi de longe, o dia mais frio que já passei aqui. Pude sentir meus dedos da mão e dos pés congelando, mesmo estando com um par de luvas e vários pares de meia.


De um lado, meu corpo quase “congelando” em Zlatibor. Do outro, a cena do filme “Satantango” em que a personagem caminha por horas a fio no frio típico da Hungria (que a título de curiosidade, faz fronteira com a Sérvia).

A Rayssa já estava familiarizada com temperaturas baixas uma vez que ela já morou na Argentina e no Chile. No entanto, isso não significa que ela também não tenha ficado encantada com o local. Nas palavras dela: “Um lugar romântico. Um mar de neve como eu nunca vi antes."


Árvores nativas cobertas pela neve em Zlatibor. Foto: Rayssa Morinigo


Eu a Rayssa posando para foto em frente a um lago congelado pela neve.

Para os sérvios, a neve é algo que faz parte do cotidiano pois uma vez ao ano eles terão um inverno rigoroso que muda a rotina de forma extremamente radical. Com isso, não é comum pra eles escutarem que eu nunca tinha visto neve na minha vida. Mas confesso que me divirto em responder essa pergunta pois observar os olhos perplexos com que me encaram ao ouvir isso, é tão engraçado quanto interessante.

A verdade é que depois dessa experiência em Zlatibor, com uma temperatura tão baixa,voltamos pra Belgrado um pouco mais preparadas pro inverno, que pode chegar a -15 ou -20 graus. Não sabemos o que o frio nos reserva mas com certeza, muitas paisagens exóticas e viagens surpreendentes estão por vir.


Selfie brincando com a neve.

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