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A VERDADE SOBRE O KOSOVO


Uma pessoa que visita a Sérvia, sempre vê em vários lugares a seguinte frase: "КОСОВО ЈЕ СРБИЈА" (Kosovo é Sérvia). Ela pode ser vista em pichações, grafites, panfletos políticos, jornais e também pode ser muito ouvida saindo da boca das pessoas ou vista em programas de televisão. Muitos podem, então, perguntar-se: "Mas por que os sérvios insistem tanto nesse assunto?", "Que absurdo! Como eles podem negar a independência a um país?" ou "O que é Kosovo mesmo?". Este artigo visa apresentar a questão do Kosovo para que você, caro leitor do Bem-vindo à Sérvia, seja um turista diferente - um turista informado sobre o que acontece na Sérvia, ou seja, um verdadeiro viajante, que não está satisfeito em conhecer superficialmente os lugares que visita.

Grafite "Kosovo é Sérvia" em frente ao estádio do Estrela Vermelha

Antes de mais nada, é importante saber que a Sérvia é dividida em três partes: Sérvia Central, Província Autônoma da Vojvodina e Província Autônoma do Kosovo e Metohija - isso seria algo similar à divisão do Brasil em estados. Em 2008, o Kosovo (cuja maioria da população é albanesa) declarou sua independência unilateral da Sérvia com o apoio dos Estados Unidos e de países europeus, como a Alemanha, a França e muitos outros. Países como a Rússia, a Espanha, a Grécia e, inclusive, o Brasil não reconheceram a independência do Kosovo.

Vamos voltar um pouco no tempo?

O povo sérvio habita a região do Kosovo desde a Idade Média e este local tem uma importância tremenda para eles - pode-se dizer que é o berço da civilização sérvia. Para vocês terem uma ideia, mais de 1.300 igrejas e monumentos culturais medievais sérvios se localizam no território do Kosovo. Ao todo são 26 mosteiros ortodoxos, sendo que três deles são Patrimônio da Humanidade. Infelizmente, muitos deles foram completamente destruídos ou danificados quando a Sérvia perdeu o direito de governar a Província em 1999 (falaremos sobre isso alguns parágrafos abaixo). No século XII, o coração cultural, diplomático e religioso do Reino da Sérvia ficava no Kosovo, que teve um papel essencial para o Império Sérvio do século XIV.

No dia 15 de junho de 1389 (28 de junho, segundo o calendário juliano), aconteceu a Batalha do Kosovo, na qual o exército liderado pelo príncipe sérvio Lazar Hrebeljanović enfrentou o exército invasor otomano, liderado pelo sultão Murad I. Como o exército sérvio estava em grande desvantagem numérica, a derrota para os otomanos foi inevitável, embora tenham conseguido causar danos significativos o suficiente para atrasarem o avanço otomano rumo ao ocidente. O príncipe Lazar perdeu sua vida durante a batalha o que o tornou um grande herói sérvio. A Batalha do Kosovo foi um episódio de extrema importância para a história e a identidade nacional sérvia, e serviu de inspiração para os movimentos contra o domínio do Império Otomano no século XIX.

Representação da Batalha do Kosovo. Autor desconhecido.

Durante o domínio otomano no Kosovo, que incrivelmente durou de 1459 a 1912, muita coisa mudou. Os otomanos levaram para lá a islamização e não toleraram o cristianismo. Durante esse processo, a Igreja Ortodoxa Sérvia foi abolida e muitas igrejas e lugares sagrados ortodoxos ou foram destruídos ou foram transformados em mesquitas. Isso resultou na emigração de milhares de famílias ortodoxas sérvias do Kosovo, que não tinham forças para lutar contra a opressão dos otomanos. O êxodo foi tão grande que, no fim do século XIX, a população do Kosovo já era composta em sua maioria por albaneses, que se converteram ao islamismo.

Prédio bombardeado pela OTAN em Belgrado

Sabendo disso, nós podemos pular para a Guerra do Kosovo, que aconteceu no final da década de 1990, quando o exército iugoslavo lutava contra o Exército de Libertação do Kosovo (ELK), que era uma guerrilha formada por albaneses que, com armas contrabandeadas na Albânia, começaram a atacar prédios oficiais iugoslavos no Kosovo em busca de independência. Enquanto os sérvios foram acusados de limpeza étnica de albaneses kosovares, a mídia ocidental parece ter esquecido dos sequestros e assassinatos a civis cometidos pelos integrantes do ELK não apenas contra sérvios, mas também contra o povo roma e até mesmo albaneses acusados de colaborar com autoridades sérvias. Um fato interessante é que o ELK era visto como um grupo terrorista pelos EUA, a França e a Grã Bretanha até 1998, quando foi misteriosamente retirado da lista e passou a ser financiado por eles. Após falha nas negociações de paz, a OTAN decidiu iniciar um bombardeio de 78 dias não autorizado pelas Nações Unidas a alvos militares e civis na Iugoslávia, cujo resultado vemos até hoje pelas ruas de Belgrado. Depois disso, as tropas iugoslavas se retiraram do Kosovo e deram lugar às "tropas de paz" da OTAN.

Desde 1999, a Província Autônoma do Kosovo e Metohija se encontra sob administração das Nações Unidas e, em 2008, o Kosovo declarou sua independência unilateralmente. Porém, não pense que as coisas melhoraram... Desde que as tropas sérvias se retiraram, os sérvios que moram no Kosovo ficaram literalmente sem defesa e passaram a ser vítimas de ataques diários de extremistas albaneses. A hostilidade é tanta, que muitos não podem nem sair na rua. A situação atual dos sérvios no Kosovo é muito bem mostrada por Boris Malagurski em seu documentário "Kosovo: Can You Imagine?", que vocês podem e devem ver abaixo:

De acordo com o Ministério do Kosovo e Metohija, mais de 1.000 sérvios foram assassinados no Kosovo desde junho de 1999. Em 2011, há dados que dizem que mais de 10.000 sérvios tiveram seus nomes "albanizados" (por exemplo, Nikolić virou Nikoligi, Petrović virou Petrovigi) e tiveram suas nacionalidades alteradas de "sérvios" para "kosovares". Isso pode ser interpretado muito bem como limpeza étnica. O pior é imaginar que isso acontece até os dias de hoje e tudo sob administração das Nações Unidas. O mundo não pode fechar os olhos para isso. Outro aspecto interessante que o mundo ignora é que o governo do Kosovo não passa de uma grande organização criminosa. Eu não estou falando de uma corrupçãozinha, e sim de tráfico internacional de drogas, de armas, de pessoas e até de órgãos realizado pelo governo do Kosovo! Apesar de acusações tão graves, me parece que o fato deles terem petróleo é suficiente para ganhar o apoio dos Estados Unidos e de muitos outros grandes países. O resultado são imagens assim:

Bush aperta a mão do presidente e do primeiro ministro do Kosovo após a declaração de independência

Desde o fim da Guerra do Kosovo, não há nenhum tipo de conflito armado entre o exército sérvio e o exército dos albaneses kosovares. Eles têm tentado resolver civilizadamente suas disparidades através de rodadas intermináveis de negociações.

O que me levou a escrever este artigo foi o ultimato que o Parlamento Europeu deu à Sérvia na primeira semana de abril para aceitar ou não, em um prazo de uma semana, a oferta feita pela União Europeia em relação ao Kosovo para que possam continuar nas negociações sobre uma possível candidatura à entrada na UE daqui a muitos anos. As condições eram completamente irreais: basicamente exigiam que a Sérvia reconhecesse o Kosovo como Estado independente e que esquecesse dos sérvios que lá vivem, como se eles fossem ficar na maior paz com os albaneses em controle absoluto! A primeira reação das autoridades sérvias foi: "Eles estão brincando com a gente?" Obviamente, a Sérvia não aceitou e as negociações com o Kosovo estão paralisadas. Autoridades sérvias afirmaram: "Enquanto existirem os sérvios, Kosovo é Sérvia".

Há poucos dias, o presidente sérvio, Tomislav Nikolić, mencionou vários fatos verídicos em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a importância da justiça criminal internacional em reconciliações. A Assembleia foi, então, boicotada por oficias dos EUA e do tribunal de Haia, que claramente não queriam deixar que a verdade fosse dita. Leia o discurso completo em inglês aqui: http://www.tanjug.rs/news/83487/nikolic---icty-only-hinders-regional-reconciliation.htm

Só tem uma coisa que os sérvios querem saber: até quando?

Por fim, assistam a esse vídeo com a música "Ninguém pode saber" que apresenta mais alguns fatos que a mídia ocidental não exibe sobre o Kosovo:

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